Sinal Vermelho
No carro ao
lado alguém desconhecido
exibe o seu Record no tablier
Como eu partirá quando o apito
do incorruptível árbitro o expulsar
de vez.
Gastão Cruz
In Crateras
Assírio & Alvim (2000)
Este poema é de uma elegância notável! Gastão Cruz (n. Faro 1941) retrata de forma exímia e irónica, os tantas vezes comentados casos de erros ou “suposta” corrupção na arbitragem, mas sem matizar a temática com o lado rude e taberneiro, de que esta quase sempre se veste. Gastão, poeticamente trata da questão não em seis versos, mas, mais precisamente em uma palavra “incorruptível”. Existindo aqui uma estrita conexão com a morte, “quando o apito/ do incorruptível árbitro o expulsar/ de vez”. Leia-se quando Deus, ou um Ente Superior ou o Destino, ou a Biologia. Todo este poema tem um lapso temporal de provavelmente nem um minuto, aquando parado em um qualquer semáforo, à espera do sinal verde, e de um olhar para o automóvel ao lado, onde um qualquer desconhecido viajava com seu jornal desportivo. Este versos como relâmpagos, devem ter surgido em Gastão, que (imaginemos) rapidamente os escreveu num qualquer papel perdido em seu carro. O poema apesar de tratar de um lado desonesto, não veste uma roupagem moralista, não existe uma lição moral a reter, exceptuando a que o Árbitro que os e nos, expulsa de vez é incorruptível.
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