quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

... Italy Calvino ou um Atalho para: Itália!


Este romance, o primeiro de Ítalo Calvino (n. Cuba 1923 — m. Siena (Itália) 1985); poderá decepcionar quem estaria à espera de uma envoltura psicológica tenebrosa e inquietante, apesar de ser de letras leves estas são no seu íntimo, duras e densas. A obra que se apresenta deverá ser encontrada no "atalho" que ela própria proclama. Neste caso concreto o atalho não servirá para chegar mais celeremente ao destino, mas para entender melhor o caminho que para tal ponto nos conduz.
Tudo volteia, Pin (a meu ver uma personificação da própria Itália, nesses tão conturbados tempos, de pós-II GM). Este miúdo ("piccolo" como dizem os italianos), órfão, vive com a irmã, (esta uma prostituta) em um beco, perdido em Roma. Esse seu Universo, de misérias e desolações, mas também de sonhos; os sonhos de Pin; ele que por um lado há muito deixou de ser criança, (há muito esse estado que, para além de físico; é psíquico); no entanto ainda não é adulto. Esta temática não é retratada nas tão conhecidas birras do "quando for grande...", mas de forma séria em entre-linhas, desenhada. Toda a trama, se matiza nesta busca, por este último mundo, matizando-se no caminho de Pin, por um paralelo que divide os dois pólos, sem no entanto pertencer a nenhum dos dois. Sendo naõ esquecer a história italiana, e todo o pesado presente que viveu, mas um presente um se vislumbra alguma, mas existente esperança. Todo o livro é um grito, um clamor pela descoberta da nossa identidade (quer pessoal, quer também colectiva). O "ninho das aranhas" é essa tal realidade: a sua imagem incaptável, o seu verdadeiro e real "eu", o seu segredo, o seu lugar apátrida no Mundo. E o atalho, o caminho, para o seu auto- (e também da Itália) conhecimento.

"O Atalho do Ninho de Aranhas" (1947); Ítalo Calvino; Teorema 2010; 230 páginas.

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